Compositor: Fabrizio De André
Dormes sepultado em um campo de trigo
Não é a rosa, não é a tulipa
Que te velam da sombra dos fossos
Mas são mil papoulas vermelhas
Ao longo das margens do meu rio
Quero que desçam os peixes prateados
E não mais os cadáveres dos soldados
Levados pelos braços da corrente
Assim dizias e era inverno
E como os outros, na direção do inferno
Tu vais triste como quem deve
E o vento te cospe, na face, a neve
Para Piero! Para agora!
Deixa que o vento passe um pouco por você
Dos mortos em batalha, te levas a voz
Quem deu a vida ganhou em troca uma cruz
Mas você não o ouviu e o tempo passava
Com as estações a passo de Java
Até que chegaste a atravessar a fronteira
Em um belo dia de primavera
E enquanto marchavas com a alma nos ombros
Viste um homem no fundo da vala
Que tinha o teu mesmo, idêntico, humor
Mas a farda de uma outra cor
Dispara-lhe Piero! Dispara-lhe agora!
E depois de atingi-lo, dispara-lhe novamente!
Até que tu não o vejas, exausto
Cair na terra a cobrir o seu próprio sangue
E se dispara-lhe na fronte ou no coração
Possuirá apenas o tempo para morrer
Mas restará, para mim, o tempo para ver
Ver os olhos de um homem que morre
E enquanto lhe dedica esta atenção
Aquele volta-se, te vê e tem medo
E abraçado à artilharia
Não te retribui a cortesia
Caíste por terra sem um só lamento
E te das conta em um só momento
Que o tempo não te havia bastado
Para pedir perdão por cada pecado
Caíste por terra sem um só lamento
E te das conta em um só momento
Que a tua vida terminava aquele dia
E não haveria retorno
Ninetta minha, morrer em Maio (na primavera)
Requer tanta, coragem demais
Ninetta bela, direto para o inferno
Haveria preferido partir no inverno
E enquanto o trigo te estava a ouvir
Com as mãos apertavas um fuzil
Dentro da boca apertavas palavras
Geladas de mais para derreterem-se ao Sol
Dormes sepultado em um campo de trigo
Não é a rosa, não é a tulipa
Que te velam da sombra dos fossos
Mas são mil papoulas vermelhas